Perceba que ela
Já sabe caminhar
Entre nuvens e palavras.
E no jardim ou no inferno
Das coisas ditas e escritas
Ela consegue furtar
A flor da poesia.
Flor por demais
Perfumada e bela
E nota-se que sem espinhos
Pois os espinhos ficaram
Cravados no poeta
Agricultor desta espécie
Lírica de flor.
Perceba que ela
Podia ser o que quisesse
Pois os grilhões do machismo
Não lhe alcançam.
Ela podia ter o que quisesse
Amantes, canções ou estrelas.
Mas tudo que ela quer
É ser sua...
Tudo que ela quer ter
É um filho...
Ela quer casar.
Perceba que eu também
Compreendo o seu medo.
Pois rara às vezes
A beleza e a inteligência
Se uniram em um mesmo corpo.
Estas duas Deusas (beleza e inteligência)
Há muito são antagonistas
E o encontro delas
É o mais perigoso
Fenômeno da natureza.
Pois tal fenômeno
Traz a forma mais cruel
Da beleza...
E a forma mais perigosa
Da inteligência...
Mas perigoso que isso
Só se a cobra coral
Recitasse sonetos de amor.
Por isso entendo
Sua indecisão...
Pois ela quer
Ser sua...
Ela quer casar...
Então indagas: O que fazer?
Como um homem deve amar
Uma criatura tão complexa
E prodigiosa?
E ao mesmo tempo
Como deixar de amar
Exemplar tão singular
De mulher?
O que posso dizer-te
É que para amar tal criatura
É necessário esforço heroico
Digno de epopeias...
É como tentar engarrafar o mar...
Ou guardar o sol em caixa de fósforos.
Agora meu amigo
Guardando no bolço
Os exageros poéticos.
Falo-te com a sinceridade
De um homem
E não com a mentira
Dos versos.
Para ama-la,
Como a qualquer
Outra mulher
É preciso simplicidade
E entrega.
Pois só assim
Se ama de verdade,
Completamente,
Sem medo ou orgulho.