dimensões

dimensões

terça-feira, 29 de maio de 2012

EJACULAÇÃO LÍRICA 20/05/12



Quando eu te vi
Meu eu lírico
Quis te fazer um poema...
Meu eu homem
Quis te fazer uma carícia.

E assim fiquei
Neste duelo interno
De carne e palavra
De hormônio e metáfora.

Quando eu te vi
Meu eu lírico
Se encheu de imaginação...
Meu eu homem
Teve logo uma ereção.

E assim fiquei
Nesta bifurcação.
O eu lírico sofrendo
  De um tesão metafísico. 
O eu homem padecendo
De um sonho carnal.

Desde aquele dia
Minha inspiração é teu corpo
Minha ejaculação a poesia.
Meu eu lírico quer ser real
Meu eu homem se perde
Em mil fantasias.

UMA IDEIA QUE QUERIA SER HOMEM 27/05/12



Me deixe existir fora da tua ideia
Pois aqui nesta forma ideológica
Sou qualquer coisa menos homem.
Sou um mito...
Uma fantasia...
Um sonho decadente
E pré-adolescente
De perfeição.

Então me deixa existir
Eu quero ser homem
Mostrar meus defeitos
Te dar meu amor...
Meu sexo...
Meu cansaço...
E meu sorriso...
Não quero ser esta ideia
Eterna e imutável
No teu sonho sem carne.

Eu quero o instante
De tudo que é tempo.
Eu quero tudo
Que se perde
E que se deixa
Mas é real.

Me deixe existir
Fora da tua ideia
E dentro da tua pele
Me tira do teu córtex
    E me coloca no teu corpo...
Sem medo da dor
     Ou culpa da delícia.    

terça-feira, 22 de maio de 2012

INSÔNIA 15/10/11



Às vezes o sol chega antes do sono
Quando a noite é mais escura
Quando o desejo é mais febril.
E eu não queria pensar
Todas estas coisas
De versos...
E fúria...
De sangue...
E beijo...

Eu só queria dormir...

Dormir o sono do verso
Que não foi desperto
No coração do poeta.

Dormir o sono da criança
Que não sabe
Que a vida já vem.

domingo, 13 de maio de 2012

MINHA MÃE QUER GOZAR 13/05/12



Socorro! Alguém me ajude
Abduziram minha mãe.
Logo minha mão
Que era tão minha
E tão mulher...
Foi roubada
Abduzida por um comercial.

Socorro! Vejam o que fizeram
Com minha pobre mãezinha.
Lhe roubaram a alma
Humana e feminina
E a transformaram
Nesta criatura assexuada
E emoldurada em um outdoor
Com um sorriso anacrônico
E capitalista.

Da sua boca retiraram
Os palavrões a as pragas
Que tanto me divertiam na infância.
Retiraram até a língua
Que divertia meu pai
Entre beijos ardentes
E indecentes.

Lhe taparam o sexo
Lhe tiraram assim
O prazer do gozo
Que era a materialização
Do seu amor.

Lhe mutilaram as mãos
Aquelas que faziam carinho
No meu pai...
E ali escondido no cantinho
Quem sabe até
Uma masturbação.

Vejam o que fizeram
Com esta mulher!
Logo a maternidade
Que era para torna-la
Mais mulher...
Hoje a transforma
Em uma entidade
Mitológica...
Um produto...
Uma data...
Qualquer coisa...
Menos uma mulher.

Porque uma mulher
Tem que ser desejada
Com aquele desejo sacana...
Tem que ser penetrada
Posta num altar...
E o único altar digno
Para uma mulher
É a cama.

Socorro!
Minha mãe quer gozar
Mas lhe arrancaram a vagina
E lhe deram um iPhone.

AH... 19/11/11



O sorriso 
É a melhor
Parte da vida.

E tem que se saber
Sorrir de muitas coisas.
Muitas vezes até
Sorrir do que é triste.

...Quem não sabe
Sorrir de si mesmo
Não sabe ser feliz.


O MISTÉRIO DAS MAÇÃS 30/11/11



A ironia de Deus
Não foi colocar
A macieira dentro do paraíso...
Na verdade é bem fácil
Resistir às maças...

Mas Deus por ser perfeito
É perfeito inclusive em sua ironia.
Por isso colocou dentro
De algumas maçãs
O próprio paraíso.

E eu verdadeiramente
Não sei até que ponto
É fortuna ou tormenta
Morder maças
Com gosto de paraíso.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

O DELÍRIO DO RELÓGIO 10/03/12



O sonho permanecia...
Embora o concreto
Já tivesse se partido
E as luzes se apagado.
Embora o abandono
Estivesse em tudo
O sonho permanecia...

Embora já não houvesse
Nem lágrima, nem sorriso
Nem calor, nem poesia
O sonho permanecia...
E o amor também
Estava lá...
Mas o amor
Já não servia.

Tal qual um relógio quebrado
O amor já não percebia
O tempo que passava.
Séculos ou segundos
Se constituíam
Em um mesmo delírio.

DIALOGO ENTRE DEMÔNIOS 23/03/12



No meu ombro direito
Percebo uma forma diminuta
Vejo que é um homenzinho.
Penso que é um anjo.
Mas não é anjo.
É José de Alancar.

Ele me diz ao ouvido
Que o que é irresistível em ti
São os olhos castanhos cor de mel
A boca rubra cor da paixão
(se é que paixão tem cor).
O que é irresistível em ti
É a tua face esculpida por anjos
Que vislumbraram também a face de Deus.

Mas então percebo
Que em meu ombro esquerdo
Há outro homenzinho a tagarelar
Penso ser Mefistófeles
Que veio me tentar.
Mas não é o diabo.
É Machado de Assis.

E ele sussurra no meu ouvido
Que o que te faz irresistível
Não são os olhos, face ou boca.
Claro isso tudo é bonito.
Mas o que te torna irresistível
Não são os artifícios líricos poéticos...
O que te torna irresistível é a tua bunda
Que desperta os meus instintos Bíblicos ancestrais
De retornar ao paraíso.

O que te torna irresistível
São as tuas pernas
Que escondem no meio delas
A tão bela e úmida flor da vida...

E assim ouvindo Machado
Entre bunda, pernas, seios e lábios
Percebo que além de tudo
Posso também ama-la.
Como um delírio idílico
Em um romance de Alencar...

Afinal és linda
    E não és manca.