dimensões

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domingo, 28 de agosto de 2011

Som 31/07/11



Um dia eu sonhei
Com uma palavra livre
Então eu quis inventar
Esta palavra livre.
Eu não quis inventar
A palavra livre
Ou dá um novo significado
A palavra liberdade.
O que eu inventar
Foi a liberdade da palavra.

Eu quis uma palavra livre
Livre de tudo
Livre dos poetas
E dos gramáticos
Livre da língua
E da garganta
Livre do ouvido
E do entendimento
Livre do som
E do pensamento.

Foi então que eu percebi
Que era impossível
Inventar esta palavra.
Pois esta palavra já existe
É o silêncio.
Não a palavra silêncio
Mas o silêncio em si
Liberto de qualquer palavra.

Palavras estão sempre presas
Presas a idéias
A homens
A dicionários.

Só o silêncio é livre
E ele só pode ser livre
Por ser ausência.
Pois o silêncio não é nada
Ele é a ausência de som.
E só quando não se é
É que se pode ser
Completamente livre
Livre de tudo
Livre da existência. 

Ambiguidade 14/08/11





O amor
Não é só carícia
Também é solidão.

O escuro
Não é só espreita
Também é abrigo.

E toda lágrima
Chorada ou contida
Um dia já foi sorriso.

Propaganda 16/08/11



Um dia o comercial me disse:
Compra essa camisa
Que você será feliz.

Hoje eu sou
Um homem triste
Com uma camisa bonita.

Um dia o comercial me disse:
Beba esse refrigerante
Que você será feliz.

Hoje eu sou
Um homem triste
E com gastrite.

Um dia o comercial me disse:
Compra esse carro
Que você será feliz.

Hoje eu sou
Um homem triste
Com um carro bem rápido.

Um dia o comercial
Ia me dizer outra vez
Como ser feliz.

Foi quando
Eu desliguei a televisão
E comecei a ser.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

VAZAMENTO 09/08/11



É como se a vida
Pulsasse fora
Das minhas veias.
Passasse... Vazasse
Silenciosamente
Como lágrimas
Ou hemorragia.
E eu não consigo
Estancar a vida
Que se vai de mim
Que escorre
Entre meus dedos
Entre meus dias.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Descanso 28/7/11


Tudo que a moça queria
Era viver...
Tudo que a anciã vivida queria
Era a mocidade...

E aqui jaz
Uma caveira feliz
Que descansa em paz
De todos os desejos.

AO MEU ENTARDECER 06/10/03



Apesar de todas as cores
Deste entardecer
Sempre vai prevalecer a cinza
Como a cor suprema.

Ainda lembro
Do momento mais feliz
Que ainda assim
Não passa da lembrança.
Igual a todos
Os outros momentos
Da minha vida.

E se pudesse
Queria emoldurar
Este momento.
Se bem que acho
Que é isso
Que os poemas fazem
Molduras da vida.

Queria fazer
Uma moldura deste momento
Onde pela solidão
Encontrei a paz que procurei
Por todos os lugares
Em todos os dias da minha vida
A paz, que por fim agora é minha
E está no silêncio da tua ausência.

DO NIILISMO 29/09/09

Hoje eu suo pó
Amanhã serei nada.
Mas antes de mais nada
É preciso que antes
O nada exista.
E se o nada existir
Já será alguma coisa
E alguma coisa
É sempre melhor
Do que nada.