dimensões

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sábado, 24 de março de 2012

ABERRAÇÃO 18/03/12


Talvez o pior
Não seja a vida
Nem a morte...

Talvez o pior seja
Não conseguir viver
Como tantos abortados
Que não conseguem
Abrir os olhos...

Talvez o pior seja
Não conseguir morrer
Como todos os deuses
Que não conseguem
Fechar os olhos...

O resto é o purgatório
Os dias perdidos... Longínquos
De uma vida
Que não nasce
Nem morre...

O PALHAÇO E O POETA 27/02/12


Se o riso
É a profissão
Do palhaço
O que será
Que ele faz
Quando está
De folga?
Será que ele chora?

Assim como a palavra
É a labuta do poeta...
Quando o poeta cala
Na verdade está
Descansando.
O silêncio é seu recreio.

E o poeta então
Fica ali parado
Esperando... Esperando
A próxima palavra
Que lhe roube
Um pedaço da vida
E lhe dê seu quinhão
Da eternidade.

A HERANÇA 26/02/12



Os grandes amores
Tem por costume
Por característica
Não deixar muitas palavras
Ou documentos
Ou fotos
Ou fatos
Coisas palpáveis
Provas irrefutáveis.

Os grandes amores
Daqueles que de tão grande
Não cabe no peito
Nem na vida
E se vão
E se perdem 
Pelo espaço
E pelo tempo...

Esses amores
Deixam apenas
Uma lembrança
Vaga e corrosiva
Que faz parecer
Que toda a vida
Se perdeu
No momento do amor
Que ficou no momento.

sábado, 10 de março de 2012

O DIA DAS MULHERES 08/10/12


Reza a lenda
Que ela era virgem
Quando recebeu
A visita de um anjo
Que disse que ela
Seria mãe
E que a criança
Seria muito especial
Pois viria
Salvar os homens
Dos próprios homens.

A mulher e seu marido
Viajaram para outra cidade.
Aquela criança
Que nasceria em breve
Seria presenteada
E perseguida por reis
E morreria na cruz
Como redentor do mundo.

Essa estória
Vem sendo contada
A mais de dois mil anos
E quase todo mundo a conhece.

O que ninguém sabe
Foi a primeira coisa
Que o pai adotivo disse
Após o nascimento
Daquela criança
Tão aguardada.

Ele segurou
Aquele frágil bebê
Em seus braços
De uma maneira
Tão terna e apaixonada
Deu-lhe um beijo na testa.
E falou baixinho
No ouvido da mãe:

- É uma linda menina...

TAMBÉM SOU ASSIM... 22/01/12


Eu aprendi...
Nesta vida pouca
Que os amores impossíveis
Muitas vezes é o que torna
Os dias possíveis.

Aprendi a andar
Sem pressa
Por calçadas
Sem tempo.

Aprendi a ouvir
O silêncio
Das minhas
Próprias palavras.

E aprendi a amar...
A amar o que tenho.
Não é que eu não queira mais
Não é que eu queira pouco.

Sou apenas feliz
Um poeta feliz.
E isso já tem por si só
Sua parcela de absurdo
E de impossível.

PERGUNTAS 28/12/11


O que adiantou
As paixões
As palavras
Os vícios
A fúria
A própria juventude?

O que adiantou
O que eu disse
Pelo que lutei
Os poemas
As mulheres
Os porres
O amanhecer?

O que adiantou
A noite
O sonho
A prece
A paz
A guerra
Ela
Eu
   Tudo...

O que adiantou
A vida?  

domingo, 4 de março de 2012

Cervantes 07/02/12

De quantos mares
Eu já fiz porto?
De quantas putas
Eu já fiz dama?
De quantos covardes
Eu já fiz herói?
De quantos pangarés
Eu já fiz alazão?  

Ando pelo o mundo
Com pés de Hermes
E com sonhos
De Cervantes.

O impossível
Para o poeta
É só uma palavra...

INTERRUPTOR 25/01/12

Olha meu amor
Perto de ti
Me sinto estranho...
Me sinto assim...
Como um interruptor.
Pois basta que me toques
E alguma coisa se acende
Aqui por dentro.

Logo eu
Que sempre fui
Tão de sombra
De repente
Me sinto assim...
Iluminado
Me sinto gravido
De luz.

MORRER DE AMOR 29/02/12



Digam o que quiserem
Mas eu insisto
Ele morreu de amor.
Digam o que quiseram
Mas eu insisto
São dragões...
E ele morreu
De amor.

A sífilis que se tornou crônica
E atacou seu cérebro
E o deixou sábio e poético
Como Quixote
Era só um pretexto
Dos médicos
Para ter o que dizer
Para os homens
Que não sabem
Inventar palavras
Nem paixões...

Por isso esses homens
Não podem ver o amor...
O amor que o matou
E por isso não acreditam
Que ele...
Morreu de amor.