dimensões

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terça-feira, 28 de maio de 2013

UM HOMEM CANSADO 28/05/13


Só há cansaço e caminho
Nesses dias de um homem só
Nessas noites que são tão minhas
Companheira e solidão na mesma mulher...

Busco uma palavra
Que transforme dor em arte
Mas o vazio sempre será
Um espaço a ser preenchido.

Busco uma sombra
Nestas noites em claro e sem Sol
Mas eu já sou tão sombrio.

Busco então por mim mesmo
Muito mais importante
Que saber quem sou
É saber quem não fui.

Busco uma trégua
Nesta paz tão sozinha
Mas eu já sou tão covarde.

E tanto os versos
Quanto à escuridão
Sempre servirão
Para esconder lágrimas e tristezas
Quiçá homens inteiros
Na mesma penumbra
Na mesma penúria
De se saber homem.     

O corte está exposto
Revelando toda vida e toda morte
Que há em um homem
Libertando o sangue do corpo.
O corte está exposto
Mas o homem permanece escondido
Oculto na sua arte armadilha...

Este homem sou eu
Sou bifurcação...

Metade quer se revelar
Gestos e gostos...
Ser feliz é uma questão
De paladar...


Metade quer se esconder
Alturas e profundidades...
Ser feliz é uma questão
De equação... 


E a poesia serve apenas
Para não servir...

      

domingo, 26 de maio de 2013

POEMAS NO PARAÍSO 26/05/13


 Eu também acredito no paraíso...
Só que para entrar no meu paraíso
É preciso
Morder a maça.

Para entrar no meu paraíso
É preciso
Tirar a roupa
É preciso 
A pureza da nudez
E a simplicidade
Da penatração.

O paraíso
Não é um lugar
Para se chegar
É um sentimento
E é preciso se entregar...

O paraíso é um orgasmo
Sentido mais fundo... 
Lá, onde todo homem 
É abismo
E todo abismo 
É céu. 

       

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Soldados e Meninos 22/05/13



Do ódio ele não entendia.
Não entendia porque era menino
E meninos nada entendem de ódio
Entendem de bola de gude
De pipa
De fruta no pé   
De bicicleta...

Os homens é que entendem de ódio.
Por motivos religiosos ou científicos
Eles sempre acharão uma maneira de odiar...
Mas o menino só queria brincar
Mas brincar com o ódio é perigoso
É letal...

Os homens querem dominar
O mundo todo.
O menino faz do mundo todo
Seu quintal.

Mas o menino virou soldado.
E no meio daquele sangue jorrando
E daquele cheiro de ódio
O soldado virou menino
E agora chorava...
Mas não havia colo nem compreensão.

Então o ódio havia vencido
O menino havia crescido...
O quintal virou campo minado.

O mundo todo virou uma guerra
E ninguém sabia direito
Quem havia declarado...

segunda-feira, 20 de maio de 2013

BELEZA BÉLICA 20/05/13



O que será
Que ela tá procurando
Quando olha pra dentro de si
E tudo é não saber?

Mas ainda há tanto
Para se viver.
Ela ainda vai aprender
Que para cada abismo do caminho
Há um salto acrobático
Que pode ser queda.
Mas o chão não é o limite
É o impulso para os que acreditam
Que o céu é possível.

O que será
Que ela tá procurando
Quando olha para mim
E ver meus escudos?

Os escudos escondem
O ponto fraco
A cicatriz do flanco
As marcas de um homem
Que já sangrou tanto.

Os escudos são estigmas
Das guerras que lutei
Muitas delas comigo mesmo.
Mas não importam as armas
Pode ser a lamina cortante
Ou escudo reluzente.
Lutando eu aprendi
Que só existe uma maneira
De se vencer uma guerra
É não ferindo ninguém.

Fico eu então
Com meus escudos
E meus escuros.
E se até as flores
Tem espinhos
É porque elas sabem
Que a vida pode machucar.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

POR QUEM EU SOU 18/05/13



Eu já errei todas as culpas
Já beijei todas as moças
Já amei todas as putas
Já despi todas as roupas.

Eu já inventei todos os versos
Já calei cada silêncio
Já provei todos os gostos
Já esperei todo esse tempo.

Eu já acordei todos os sonhos
Já flertei todos os deuses
Já dancei com o demônio
Até que ele não é tão feio.

Eu já voei por todo meu coração
Agora só há escombros e resquícios
Eu já bebi todas as virtudes
E já rezei todos os vícios.

Eu já fui mais só
Do que a mulher mais amada
Que disfarça a solidão em seu sorriso.
E já fui mais amado
Do que a mulher mais sozinha
Que guarda em seu peito de maneira mesquinha
Seu amor verdadeiro e impossível.

Eu já fui tantos
Loucos e santos...
Eu já fui sujo
E já fui jardim.

Hoje o que eu sou
São apenas cansaços...
Conheço meu canto
E não são os teus braços...
Sou tão pequeno 
      Que já não caibo em mim.        

sexta-feira, 10 de maio de 2013

DAS SOLIDÕES 10/05/2013



A solidão é uma questão de costume.
Ele era tão só
Que ser só era ser seu...
Ele já não estranhava a solidão
A solidão para ele era um escudo...
O melhor amor era masturbação
O melhor amigo era o solilóquio...

Assim ele vivia
Viveu e viverá...
Sendo mais solitário
Que uma sombra
Que anda sempre
Acompanhada
Do solido corpo...

Só Deus podia entendê-lo
Só ele entendia Deus
Em sua solidão divina
E maldita...
A solidão de estar acima
De toda a existência.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

O ÚLTIMO DIA 29/05/11



E ele estava lá diante do mar, ultimamente passava a maior parte do dia assim olhando o mar querendo entender a sua vida e o que ele era, mas isso já não importava. Os dias estavam mais quentes e mais longos, quase que ele já não dormia, já não contava os dias, meses ou anos, já não sabia a sua idade nem mesmo seu nome porque fazia muito tempo, muito tempo mesmo que ninguém lhe chamava.

A terra se tornou algo seco sem vida, e o sol estava enorme, de tão próximo parecia a lua, a mesma lua se perdera no céu tempos atrás. Agora ele estava só, há muito tempo estava só, esposas teve muitas, filhos mais de cem, até que entendeu que não adiantaria, pois iria ver todos morrerem. 

O amor já não adiantava vaidade, alegria, se embriagar, nada disso servia para ele, nem um sentimento humano cabia em seu coração. Quem sabe Deus? Não nem mesmo Deus podia consola-lo, se Deus existisse ele o odiava por ter lhe feito como era.

Imagine enterrar toda sua família seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus amigos, e depois constituir outra família, arranjar novos amigos e enterra-los novamente, imagine isso se repetir por alguns milhares de anos, ele já não era capaz de sentir nem uma emoção, nem tristeza, nem alegria.

E assim entre guerras, pestes e tragédias ambientais ele viu a humanidade ser extinta, como tantas outras espécies, como próprio sol agora estava morrendo. O que ele era um Deus, um demônio? Por que ele era imortal? Ele não sabia, era o seu segredo, no início contou para algumas pessoas e como todos que ele conhecia essas pessoas morreram, então não contou mais, ficou vivendo no meio dos homens fingindo ser normal. Ele sempre ria de maneira triste quando via os homens querendo inventar maneiras de viver para sempre, mais só ele sabia que a eternidade é na verdade uma maldição.

Se um homem que vive 60, 80 anos consegue aprender muitas coisas, imagina ele que viveu mais que a humanidade inteira, ele sabia tudo, tudo que a humanidade foi capaz de produzir em termos de conhecimento, e por isso ele estava esperançoso, pois pelas suas contas astronômicas, aquele poderia ser seu último dia e só isso o animava pensar que poderia deixar de existir, conhecer o nada, que não é bom nem é mal é apenas o nada e nem se quer é passível de ser conhecido.

Já fazia muito tempo que a humanidade havia sido extinta e ele vagava só, pela terra, sem ninguém pra conversar ou amar, ele era o último homem do mundo, o dia então começou a escurecer, mais o Sol ainda estava muito longe do horizonte; não era o pôr do sol era o fim do sol, que como as estrelas menores, agora se apagava depois de bilhões de anos queimando.

O sol se apagou e a terra mergulhou em uma noite eterna, logo o gelo tomaria conta de tudo, então ele sorriu o seu sorriso mais triste, ele era o último homem, o único homem... O homem que viu o último pôr do Sol.