dimensões

dimensões

segunda-feira, 6 de maio de 2013

O ÚLTIMO DIA 29/05/11



E ele estava lá diante do mar, ultimamente passava a maior parte do dia assim olhando o mar querendo entender a sua vida e o que ele era, mas isso já não importava. Os dias estavam mais quentes e mais longos, quase que ele já não dormia, já não contava os dias, meses ou anos, já não sabia a sua idade nem mesmo seu nome porque fazia muito tempo, muito tempo mesmo que ninguém lhe chamava.

A terra se tornou algo seco sem vida, e o sol estava enorme, de tão próximo parecia a lua, a mesma lua se perdera no céu tempos atrás. Agora ele estava só, há muito tempo estava só, esposas teve muitas, filhos mais de cem, até que entendeu que não adiantaria, pois iria ver todos morrerem. 

O amor já não adiantava vaidade, alegria, se embriagar, nada disso servia para ele, nem um sentimento humano cabia em seu coração. Quem sabe Deus? Não nem mesmo Deus podia consola-lo, se Deus existisse ele o odiava por ter lhe feito como era.

Imagine enterrar toda sua família seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus amigos, e depois constituir outra família, arranjar novos amigos e enterra-los novamente, imagine isso se repetir por alguns milhares de anos, ele já não era capaz de sentir nem uma emoção, nem tristeza, nem alegria.

E assim entre guerras, pestes e tragédias ambientais ele viu a humanidade ser extinta, como tantas outras espécies, como próprio sol agora estava morrendo. O que ele era um Deus, um demônio? Por que ele era imortal? Ele não sabia, era o seu segredo, no início contou para algumas pessoas e como todos que ele conhecia essas pessoas morreram, então não contou mais, ficou vivendo no meio dos homens fingindo ser normal. Ele sempre ria de maneira triste quando via os homens querendo inventar maneiras de viver para sempre, mais só ele sabia que a eternidade é na verdade uma maldição.

Se um homem que vive 60, 80 anos consegue aprender muitas coisas, imagina ele que viveu mais que a humanidade inteira, ele sabia tudo, tudo que a humanidade foi capaz de produzir em termos de conhecimento, e por isso ele estava esperançoso, pois pelas suas contas astronômicas, aquele poderia ser seu último dia e só isso o animava pensar que poderia deixar de existir, conhecer o nada, que não é bom nem é mal é apenas o nada e nem se quer é passível de ser conhecido.

Já fazia muito tempo que a humanidade havia sido extinta e ele vagava só, pela terra, sem ninguém pra conversar ou amar, ele era o último homem do mundo, o dia então começou a escurecer, mais o Sol ainda estava muito longe do horizonte; não era o pôr do sol era o fim do sol, que como as estrelas menores, agora se apagava depois de bilhões de anos queimando.

O sol se apagou e a terra mergulhou em uma noite eterna, logo o gelo tomaria conta de tudo, então ele sorriu o seu sorriso mais triste, ele era o último homem, o único homem... O homem que viu o último pôr do Sol. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário