dimensões

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sábado, 28 de julho de 2012

Nietzsche 02/10/08



Em meu altar encontrei
Eu mesmo
Pois sou meu único deus
E meu único demônio.

O céu já não é mais o limite
Para além do céu existe o sol
Para além do sol a distância
Dentro de mim há um universo
De possibilidades
E um sonho sem importância.

Eu o vi descer por entre nuvens
Das alturas mais remotas
Mas ele não vinha julgar os homens
Vinha ensiná-los.

Quem era aquele homem?
Se não era Deus
Nem Maomé
Nem Shiva 
Nem Jesus.

Era eu
Era você
Éramos todos nós
Pois para além do tempo
Que nos consome
Existe um deus há muito morto
E um nascente super-homem.    

Solilóquios II 30/07/08



Ontem eu vi um homem
Tão nobre e sensível
Ele entendia de sonetos de amor
E de tratados de política
Ele me disse tanto
Que me fez enxergar
As coisas boas da vida
Me fez acreditar
De novo nas pessoas
Me fez acreditar  
Até em mim mesmo.

Ontem também encontrei
Um menino
Este parecia nervoso
E assustado
Não sabia o que fazer direito
Com seus caminhos
Não sabia se crescia ou se permanecia
A mesma criança
Assustada com o futuro.
Afinal para que crescer
Se viver é tão perigoso
E sonhar não dói nada?

Ontem também encontrei
Uma mulher abandonada
Esta era frágil e delicada
Mas a sua força era poderosa
Pois ela tinha em si
A capacidade de fazer surgir
Reis, soldados ou tiranos
Ela tinha o poder da criação
Ela tinha o dom da criatividade
Ela tinha guardada em seu útero
Toda a humanidade.

Depois disso chorei
Até minha alma ficar alva
E meus olhos vermelhos
Pois compreendi que os três
Homem, menino e mulher
Que eram tão complexos
Na verdade era só meu reflexo
No espelho.

O homem tão sábio e seguro
Era o que em mim havia de tolo
Pois só os tolos acreditam
Que são sábios.

O menino indeciso e assustado
Perdido em seus caminhos
Era o que em mim se fez filósofo 
E tudo que ele sabia era duvidar
E tudo que ele duvidava
Tornava em saber
Mas no fundo ele sabia
Que ninguém conseguiria saber
Além de si mesmo.

E a mulher que era frágil
E por ser tão frágil era poderosa
Aquela mulher mãe de toda vida
Que podia criar homens e mundos
Dentro da sua barriga.
Aquela mulher em mim
É a parte que se faz poeta
Pois ela como o poeta
É criadora de horrores e de beleza
Só que ela cria com o útero
E o poeta com a cabeça.

Pois todo poeta tem um parte mulher
É aí a origem de sua doçura
É aí onde si unem a navalha e o veludo
E é nessa mistura que o poeta si completa
Pois a aspereza do espinho
Faz parte da mesma flor
Em que está a delicadeza da pétala.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A LOBA FOI TEMA 6/11/08




A loba foi tema
Neste poema.
O poema
Que do poeta nasceu.
E o poeta
Assim aprendeu
A escrever e a amar
Ao ver loba uivar.

A beleza selvagem
Da loba que uivava,
Que sonhava,
Que escondia
Sob a noite
O seu lado mulher
O inspirou.

E o poeta a amou
No calor da primeira olhada
E o poeta se condenou coitado!
A amar sem ser amado.

A loba se esconde
Nas noites mais claras de lua
E nos sonhos mais obscuros do poeta.
O poeta se esconde
Em seus poemas mais sofridos.
E neles o poeta também esconde
O seu amor impossível.
 

sexta-feira, 20 de julho de 2012

FIZ UM FACE 11/07/12





Na minha vida tão vazia
De homem moderno
Tão cheio de tudo.
Eu caminhava pelas ruas
E nelas já não havia mais amigos
Amores...
Pessoas...
Risos...
Conversas...
Canções...
Calçadas...

Aí fiz um face
E encontrei meus amigos.
Por isso as ruas andavam
Tão desertas
Comigo andando nelas
Tão sozinho...

Agora
Eu estou cheio de amigos
Apesar de ainda
Não encontra-los...

Pois é!
Eu fiz um face
E estou cheio de amigos
Mas deserto como a rua.


   PS: Quando alguém me perguntava se eu tinha facebook e eu dizia que não, geralmente a pessoa me olhava como se eu tivesse alguma doença venérea. Resumindo fiz um facebook por pressão social... bem vindo a pós-modernidade.   

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O MESTRE CARANGUEJO 17/07/12



Acho que todos os homens
Depois dos trinta anos
Deveriam ter um câncer...
Não que isso fosse um castigo
Seria muito mais um presente.

A vida talvez não seja
Acumular coisas
Amigos...
Amores...
Lembranças...
Dinheiro...
Dias...
Anos...
Mais dinheiro...

A felicidade na verdade
Tem haver com leveza
Por isso a vida quem sabe
Seja muito mais
Um se despedir das coisas
Deixar as coisas ir, passar...
Talvez só assim no fim
Consigamos nos despedir
De nós mesmos.

Por isso todo homem
Deveria ter um câncer...
Não para morrer
E sim para ver.
Enxergar o óbvio
Que ficou invisível...
Enxergar o importante
Que ficou esquecido
As coisas simples:
Um abraço...
Passear com o filho...
Um sorriso...
Apenas um dia...

Um câncer é bom
Porque lembra
A nossa consciência
Pós-moderna, capitalista
Imediatista, compulsiva
Que faz da existência
Quase uma ejaculação precoce...
Que a vida não é coisa que se lucre
Que se guarde.
A vida é coisa que acontece
Que se vive
Se consome em si
Se vai
Se perde...

A vida é a grande ironia
Desses nosso dias
Da loucura dos mercados
Da lógica do capital.
Nesse mundo
Onde tudo tem que ser mais
E a perspectiva do mais é tudo...
Onde se deve ganhar sempre
No jogo e no amor
Ganhar dinheiro...
Ganhar amigos...
Ganhar respeito...
Ganhar o mundo...
Ganhar, ganhar, ganhar...

Só um câncer lembra ao homem
Que a vida no meio de tudo isso
É o mais importante.
E o mais importante
Nunca cabe no bolso
Nunca dá para levar.

Podemos ganhar tudo
Podemos ganhar sempre
Mas a própria lógica do capital
Nos ensina que o preço
É o principal...

Então quanto vale a vida?


PS: A palavra caranguejo vem do latim câncer.
PPS: Estamos juntos nessa, olha o nosso exército na foto.  

quarta-feira, 18 de julho de 2012

QUASE ISSO 08/01/12


Quase é uma palavra triste
Mais triste do que a palavra nada.
Pois o quase faz referência
Ao não ser das coisas
Só que com adornos
De possibilidade.
Como se uma coisa
Pudesse não ser e ser
Ao mesmo tempo...
Com se uma coisa
Fosse quase.

Ela quase veio...
Nos quase nos encontramos...
Eu quase fui feliz...

A madrugada é quase dia
Mas ainda é fria e escura...
Porque o quase é tão nulo
Quanto o nada.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

UM CAFÉ NO PARAÍSO 18/02/12



O paraíso para mim
Além dos olhos
Que nunca mais vi
E do vulto feminino e esguio
Que nunca mais encontrei...
Além dos sonhos
Que eu nunca realizei
E do homem que eu nunca
Me tornei...

O paraíso para mim
É uma palavra
Estranha e monótona
É uma coisa simples
Mas que torna todo o resto
Do que é complexo suportável...

O paraíso para mim
É assim como o café
Que a minha mão fazia
No fim da tarde
E me lembrava
Que ainda havia
Algo quente e doce
Nesta vida...

ERA 11/11/11



Era como
Se a eternidade
Coubesse na mão
Na respiração
No bolso...

Era como
Se a felicidade
Fosse simples
E a tristeza
   Fosse longe...

Era como
Se a gente
Fosse sempre
E o amor
     Fosse tudo...  

CONSELHO 03/11/11



De todos os conselhos
Que minha mão me deu
Tem um que eu nunca esqueci...
É o mais simples
E por isso mesmo
Serve para vida toda:

“Olhe para os dois lados
Antes de atravessar a rua.”

Olhar para os dois lados...

Acredito que hoje
Eu seria mais feliz
Se tivesse seguido
Este conselho...

Se tivesse olhado
Para os dois ledos...
Antes de atravessar
A vida.

MEDIDA 28/10/11


Vá embora agora
Ou fique para sempre...
Não se escolhe chegar
Não se escolhe
Abrir a porta.
Não é ciência
É animal...

Por isso mesmo
Por não haver
Meio termo...
Fique agora
Ou vá embora
Para sempre.