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terça-feira, 24 de abril de 2012

PEQUENO POEMA IMPOSSÍVEL 21/03/12



O impossível
É o possível
Acrescentado
Do prefixo
Negativo IN.

Então tudo é possível...
Até o impossível é possível
Basta que se retire
O prefixo negativo IN.

Conclui-se disso
Que o impossível
Não é uma questão
De fé nem de delírio
É uma questão gramatical...

A TRAGÉDIA DO NASCIMENTO 18/11/11


Eu gosto da dor
Dos dias em mim.
Eu gosto de ver
O tempo passar
No meu cabelo
A embranquecer...
Na minha pele
A enrugar...

Eu gosto de viver
Mesmo sabendo
Que a vida
É um constante
Morrer de tudo.

PATOLOGIA POÉTICA 05/09/11


A saudade é sentimento
Por de mais difícil
De descrever, de definir.
Mais é muito,
Muito fácil de sentir.

Bastam aqueles olhos...
Aquele sonho...
Aquela noite...

E agora eu carrego a saudade
Por toda a minha vida
Como um germe sem cura
Como uma patologia poética.




domingo, 15 de abril de 2012

O MISTÉRIO DO PLURAL 17/11/11


Eu quero ir
Para além do corpo
Onde se misturam
A essência e o tesão.
Eu quero achar a razão
A simples razão
Do não ter razão.

Eu quero o tocar
E o transcender
Eu quero a paz
E o prazer.
Mas paralelas
Que se encontram
Passam a ser encruzilhadas.

Eu quero entrar
Pelo o corpo
E pela consciência
Me misturar
Amanhecer...
E transparecer
No desejo mais sombrio.

Eu quero dominar
Toda delícia
E brincar com faíscas
Do tamanho do Sol em mim...

Este Sol passa ao penetrar
E ilumina todo o fim
Do que já não pode
Ser assim... Singular.

SUPORTE 15/04/12


Às vezes a bebida
Ajuda a suportar.
Às vezes a palavra
Ajuda a suportar.
Às vezes o silêncio
Ajuda a suportar.
Às vezes a lembrança
Ajuda a suportar.
Às vezes o esquecimento
Ajuda a suportar.
Às vezes simplesmente
Não dá pra suportar...
O tormento do mundo
Onde ela não estar.  

sábado, 7 de abril de 2012

CALVÁRIO 18/03/12


Já não bastasse a humilhação
Da nudez em praça pública.
Foi surrado, cuspido, traído
Ornado com espinhos
Servido com vinagre.

Já não bastasse a tortura
E a morte lenta na cruz.
O abandono do Pai.
A solidão do último suspiro.
O medo em seu espírito
E as chagas em seu corpo.

Depois de passar por tudo isso
Ainda foi obrigado a ressuscitar 
E ganhar a eternidade
Este brinquedo sádico
Para assistir o triste espetáculo
Da humanidade decadente.  

segunda-feira, 2 de abril de 2012

CANTO INFELIZ 23/03/12



Não me venha
Com comerciais de margarina
Nem livros de autoajuda.
Não quero tapinha nas costas
E frases feitas do tipo:
“Você ainda vai sorrir”.

Eu não quero sorrir
Eu quero chorar
Eu quero o desespero
Das noites vazias
E a agonia dos dias em vão...
Eu quero ser infeliz.

Por que todo mundo
Tem que ser tão feliz
Em outdoors e comerciais?
E assim o sorriso
Aos poucos vai se tornando
Esse delírio capitalista
Corrosivo contemporâneo.

Tudo bem! Seja feliz
Quem quiser ser feliz
Mas eu não quero
Eu quero os gritos
As lágrimas
E o sangue...
Porque isso é mais humano.

Muito mais humano
Do que brincar de perfeição
Com barbies em tamanho natural.
Não suporto mais
Esse delírio psicodélico tropical
Essa ideia falida
De normalidade ocidental.

Não suporto mais 
A felicidade que me empurram
Goela a baixo e anus a cima
Desde a infância.
Por isso quero ser infeliz
Eu decidi ser infeliz...
Por que será que eu
Não consigo ser infeliz?
Por favor, me deixem ser infeliz.

Eu não estou pedindo nada
Apenas meu direito natural
À infelicidade...
E não é que eu queira
Ser diferente da maioria
É porque a infelicidade
É algo real
É algo humano
E eu quero o humano
Eu quero o real
Ainda que imperfeito...

Eu não quero
Essa felicidade artificial
Delírio de consumo
Estrumo do capital.

Foda-se os felizes...