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segunda-feira, 2 de abril de 2012

CANTO INFELIZ 23/03/12



Não me venha
Com comerciais de margarina
Nem livros de autoajuda.
Não quero tapinha nas costas
E frases feitas do tipo:
“Você ainda vai sorrir”.

Eu não quero sorrir
Eu quero chorar
Eu quero o desespero
Das noites vazias
E a agonia dos dias em vão...
Eu quero ser infeliz.

Por que todo mundo
Tem que ser tão feliz
Em outdoors e comerciais?
E assim o sorriso
Aos poucos vai se tornando
Esse delírio capitalista
Corrosivo contemporâneo.

Tudo bem! Seja feliz
Quem quiser ser feliz
Mas eu não quero
Eu quero os gritos
As lágrimas
E o sangue...
Porque isso é mais humano.

Muito mais humano
Do que brincar de perfeição
Com barbies em tamanho natural.
Não suporto mais
Esse delírio psicodélico tropical
Essa ideia falida
De normalidade ocidental.

Não suporto mais 
A felicidade que me empurram
Goela a baixo e anus a cima
Desde a infância.
Por isso quero ser infeliz
Eu decidi ser infeliz...
Por que será que eu
Não consigo ser infeliz?
Por favor, me deixem ser infeliz.

Eu não estou pedindo nada
Apenas meu direito natural
À infelicidade...
E não é que eu queira
Ser diferente da maioria
É porque a infelicidade
É algo real
É algo humano
E eu quero o humano
Eu quero o real
Ainda que imperfeito...

Eu não quero
Essa felicidade artificial
Delírio de consumo
Estrumo do capital.

Foda-se os felizes...

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